Fumaça de queimadas no Acre: Saiba a origem da maior parcela de poluição que atinge o estado.
ago 01
15h 55min
Davi Friale, meteorologista e pesquisador na área de clima.
Há mais de 25 anos pesquisando o clima do Acre, vamos, mais uma vez, falar da origem da poluição causada por densa fumaça que invade o estado, nos dois últimos meses de inverno, ou seja, agosto e setembro.
Todos sabem que a causa são as queimadas, mas nem todos são unânimes quanto à área principal onde ocorrem essas queimadas.
Analisando as imagens de satélite, durante anos seguidos, vimos e concluímos, sem sombra de dúvidas, que a maior parcela, cerca de 60% dessa fumaça, tem origem em território da Bolívia. Outra parcela, cerca de 30%, origina-se das queimadas que acontecem em Rondônia e em Mato Grosso. A fumaça com origem nas queimadas que ocorrem no Peru e no Amazonas dificilmente atingem o Acre.
Mas nem sempre essa fumaça, com origem na Bolívia, chega ao Acre. É preciso que os ventos soprem daquele país vizinho em direção ao nosso estado, fenômeno que ocorre, apenas, após a chegada de frentes frias, com os ventos de sudeste. Dependendo da exata direção desses ventos, uma boa parcela de fumaça poderá, também, vir de Rondônia e de Mato Grosso.
A prova é tanta que, após dias de muita poluição, no estado, basta os ventos mudarem de direção e passarem a soprar em sentido contrário, ou seja, do interior do Acre ou do Amazonas, que o céu começa a ficar limpo e, em menos de dois dias, praticamente, toda aquela fumaça que tomava conta do Acre, é devolvida para o seu local de origem.
Tanto é que fazemos a previsão e informamos, com antecedência, quando haverá muita fumaça, em Rio Branco, e quando o céu voltará a ficar limpo.
Para se fazer essa previsão é preciso conhecer a origem e a trajetória dessa massa de ar com fumaça!
E o Acre produz fumaça? Sim, também, porém, em parcela muito menor. Só que a fumaça produzida, por exemplo, nos arredores de Rio Branco, irá subir devido ao ar aquecido e, lá em cima, será levada pelos ventos para dezenas ou centenas de quilômetros da sua origem, até que esfrie e desça para a superfície. Portanto, a não ser que haja vento superficial intenso momentaneamente, a fumaça das queimadas do Acre deixará o ar poluído, na superfície, somente bem longe do local de origem.
Além disso, a participação acreana, em número de focos de incêndio, é inferior a 5% do total das queimadas que ocorrem na Bolívia, no Peru, em Rondônia, em Mato Grosso e no Amazonas, conforme imagens fornecidas pelos satélites e interpretadas pelos institutos brasileiros.
Portanto, pode haver milhares de focos de incêndio de grandes proporções, bem pertinho da fronteira com o Acre, e o céu continuar limpo, no estado. Basta que os ventos soprem das direções norte, nordeste ou noroeste.
Entretanto, se mudarem de direção e passarem a soprar de sudeste, do sul ou de leste, aí, sim, o céu do Acre e, principalmente, da região de Rio Branco ficará totalmente encoberto por densa camada de fumaça.
Assim, para diminuir a quantidade dessa fumaça, é preciso não só o governo brasileiro dar condições aos agricultores de usarem outros métodos na agropecuária, mas, principalmente, manter entendimentos com o país vizinho que é o principal causador de tantos problemas de saúde, nessa época do ano, por causa da fumaça que vem de lá.