Conheça o clima do Acre e saiba quais são as perspectivas do tempo para 2016
jan 13
Davi Friale, pesquisador nas áreas de meteorologia e climatologia.
POSIÇÃO GEOGRÁFICA E CLIMA DO ACRE
Situado no hemisfério sul da Terra, o Acre tem as mesmas estações do ano, na mesma época, que as demais regiões do Brasil. O verão chuvoso acreano é o mesmo verão chuvoso de São Paulo e de Brasília, quando as massas de ar muito úmido, originárias do Atlântico, invadem a maior parte do Brasil. No inverno do Acre, as temperaturas caem bastante, juntamente, com os estados do sul do país, por ocasião das penetrações de massas de ar frio polar, originário da Antártica, quando as temperaturas despencam para valores, muitas vezes, abaixo de 9ºC, em Rio Branco.
O leste acreano, formado pelos vales dos rios Acre, Iaco, Purus e Abunã, possui duas estações bem distintas: o verão chuvoso, de dezembro a março, e o invernos seco, de junho a agosto. Assim, classificamos essa região do Acre como sendo de clima tropical. Nessa mesorregião estão situadas, entre outras, as cidades de Rio Branco – a capital do estado -, Brasileia – na fronteira com a Bolívia – e Sena Madureira.
Já, o oeste do Acre, formado pelos vales dos rios Juruá, Tarauacá e Envira e pela serra do Divisor – na fronteira com o Peru -, as chuvas são melhor distribuídas durante o ano, mas, ainda assim, há um pequeno período no inverno, entre julho e agosto, em que as chuvas são menos intensas. Pode-se, então, classificar o clima dessa mesorregião acreana como sendo equatorial. Nessa parte do estado, estão localizadas as cidades de Cruzeiro do Sul – a segunda maior em população -, Tarauacá e Feijó. É nessa área que se situa a cidade mais ocidental do Brasil, a última a ver o Sol nascer e se pôr: Mâncio Lima. Nesse município fica situado, também, o ponto mais ocidental do país: as nascentes do rio Moa, na serra do Divisor, na fronteira com o Peru.
Devido à curvatura da Terra, a diferença do nascer e do pôr do Sol, entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul, chega a ser de mais de 20 minutos, dependendo da época do ano.
Em linha reta, o Acre está a menos de 200km da cordilheira dos Andes, sendo o município de Marechal Thaumaturgo, o mais próximo.
Também, em linha reta, o oceano Pacífico dista do Acre, apenas, 470km, assim como Lima, a capital do Peru.
Pode-se, então, afirmar que o Acre está localizado na parte ocidental da América do Sul. É o estado brasileiro que fica mais próximo do Chile para onde se pode viajar por estradas asfaltadas a partir de Rio Branco. Da capital acreana, pode-se ir também, por estradas asfaltadas, para Lima (Peru), Quito (Equador), Bogotá (Colômbia), Panamá, na América Central, além de outros países. São comuns, na capital acreana, veículos com placas desses países, principalmente, do Peru e da Bolívia.
CLIMA DO ACRE: TEMPERATURAS, CHUVAS E EXTREMOS DE RIO BRANCO
Média do mês mais frio: 23,2ºC, em julho.
Mês com a menor mínima média: julho, com 18,5ºC.
Menor temperatura registrada: 5,9ºC, no dia 19 de agosto de 1975.
Média do mês mais quente: 25,7ºC, em outubro.
Mês com a maior máxima média: agosto, com 32,6ºC.
Maior temperatura registrada: 39,8ºC, no dia 8 de dezembro de 1970.
Chuva média anual: entre 1500 e 1700mm.
Mês com menos chuva: agosto, com 40,4mm, em 5 dias com chuva.
Mês com mais chuva: janeiro, com 287,5mm, em 21 dias com chuva.
Os três meses mais chuvosos são: dezembro, janeiro e fevereiro, com médias mensais acima de 260mm, caracterizando o verão do Acre.
Os três meses mais secos são: junho, julho e agosto, com médias mensais abaixo de 45mm, caracterizando o inverno acreano.
O total de chuvas que cai nos três meses mais secos equivale a, apenas, 12 dias de chuva no mês de fevereiro, o mês que, embora não tenha o maior volume de chuvas, é o mais chuvoso proporcionalmente, devido ao fato de possuir apenas 28 dias.
CLIMA DO ACRE: FRIO E O FENÔMENO DA FRIAGEM, CALOR, VENTOS E CHUVAS
No inverno – junho, julho e agosto -, são frequentes as penetrações de ondas de frio, de origem polar, que fazem a temperatura cair mais de 20ºC em menos de 12 horas, caracterizando o fenômeno local conhecido como friagem, cujas temperaturas mínimas atingem, normalmente, valores inferiores a 12ºC e, às vezes, chegam a menos de 7ºC, com sensação abaixo de zero, devido aos fortíssimos ventos polares que sopram da direção sudeste na capital acreana. Há ocasiões em que esse fenômeno dura mais de 7 dias, com o céu totalmente encoberto e uma fina garoa caindo a todo instante. Após a passagem dessa onda de frio, o ar fica extremamente seco – já que sua origem é polar da Antártica -, com valores de umidade relativa inferiores a 30%, e o céu totalmente limpo, com sol intenso. Nesses dias, o clima é típico de deserto, com calor acima de 30ºC, durante o dia, porém, à noite, a temperatura cai rapidamente e amanhece com valores inferiores a 15ºC.
No verão – dezembro, janeiro, fevereiro e março -, são comuns as chuvas de curta duração, mas fortes, com potencial para causar enchentes dos rios e inundações dos pontos mais vulneráveis. Em média, a cada três dias, chove em dois, nesses meses. Normalmente, nessa época do ano, as chuvas, no Acre, são passageiras, mas podem durar em torno de 4 horas. Algumas vezes, chove durante cerca de 12 horas seguidas, mas com fraca intensidade. Raramente, duram mais de 18 horas consecutivas.
Na primavera – setembro, outubro e novembro -, estação de transição do período seco para o chuvoso, ocorrem temporais passageiras, com fortes ventanias, chuvas de granizo e intensas descargas elétricas. Nessa época, que pode começar já em agosto, não são poucos os prejuízos causados pelos temporais que assolam o estado e as regiões vizinhas.
No outono – abril, maio e junho -, transição entre o calor úmido e o frio seco, ocorrem as primeiras penetrações de ar frio polar, com as primeiras quedas da temperatura, quando são comuns as chuvas do tipo frontal, que podem durar mais de 12 horas, começando fortes, durante cerca de meia hora, e, depois, continuam fracas.
Os ventos predominantes, no verão, são os de noroeste, com pequenas variações, devido a um centro de baixa pressão na Argentina, para onde convergem. Esses ventos têm origem no oceano Atlântico Norte e avançam pelo continente vindo de leste ou de nordeste, mas ao se aproximarem do Acre, fazem a curva, por causa da barreira da cordilheira dos Andes, e passam a se dirigir para o centro-sul do Brasil, o Paraguai, o Uruguai e a Argentina, levando muita umidade e, consequentemente, chuvas para aquela parte da América do Sul.
Ventos de sudeste predominam no inverno, devido à inversão das pressões atmosféricas na Argentina. As baixas do verão dão lugar às altas pressões atmosféricas que impulsionam para o Acre o ar frio e seco originário das regiões polares do sul da Terra. Esses ventos gelados percorrem o corredor de terras baixas no sentido sul-norte, no centro da América do Sul, cujas barreiras laterais formadas pelos Andes, a oeste, e pelo planalto Brasileiro, a leste, impedem que haja dispersão do ar frio. Assim, os ventos frios são canalizados para o Acre, oeste de Rondônia e sudoeste do Amazonas.
Devido a essas peculiaridades geográficas, o Acre, assim como parte do restante da Amazônia sul-ocidental, é a única região do planeta que, na altitude e na latitude em que se localiza, é invadida por massas de ar polar que fazem a temperatura cair brusca e acentuadamente. A incursão polar é tão intensa que, muitas vezes, os ventos secos e frios da região do Polo Sul ultrapassam a linha do equador e atingem áreas do hemisfério norte da Terra, no norte do Amazonas e no sul da Colômbia e da Venezuela, porém, com menos intensidade do que quando passaram pelo Acre. Como exemplo, a cidade de Rio Branco, capital do Acre, que está localizada a, apenas, 10º de latitude sul e, em média, 150m de altitude, já registrou temperatura de 5,9ºC, sendo comuns, todos os anos, valores inferiores a 15ºC, com máximas diárias que sequer ultrapassam 17ºC, na parte da tarde.
PERSPECTIVAS DO TEMPO PARA 2016 NO ACRE
Não se faz previsão do tempo para um ano inteiro, mas é possível analisar alguns aspectos atuais das condições atmosféricas e oceânicas e, assim, pode-se ter uma ideia do que mais provavelmente poderá ocorrer num período de 12 meses. No caso do Acre e regiões próximas, entre os fatores a serem observados, estão a temperatura dos oceanos Atlântico e Pacífico, as condições do tempo na Antártica e a energia liberada pelo Sol, onde está o comando do clima da Terra. Entretanto, fatores totalmente inesperados, como a intensa erupção de vulcões e a radiação espacial bombardeando os núcleos higroscópicos das nuvens, podem mudar radicalmente as tendências por nós projetadas.
Assim, caso não ocorram esses imprevistos, o ano de 2016, no Acre e nas proximidades, segundo nossa análise, será de chuvas abaixo da média, até por volta do mês de setembro. A partir de outubro, as chuvas deverão ficar acima da média, principalmente, em dezembro.
Intensas ondas de frio, de origem polar, deverão fazer as temperaturas despencarem no inverno. É alta a probabilidade de ocorrência de frio intenso, talvez, até com recordes, pois parece que o caminho estará aberto para o ar frio penetrar com força na Amazônia Ocidental.
Por causa dessas prováveis intensas ondas de frio, a umidade do ar estará muito baixa, no inverno, e poderá ocorrer seca moderada, principalmente, no leste e no sudeste acreano. Não há indicativos de que haja seca severa em 2016.
Entre agosto e novembro, deverão ocorrer fortes temporais, com ventanias perigosas, muitos raios e queda de granizo, exatamente, por causa das condições citadas anteriormente.
GRÁFICOS DA CLIMATOLOGIA DE RIO BRANCO
Observe atentamente, mês a mês, o clima da capital do Acre. Os gráficos foram elaborados pelo Instituto Nacional de Meteorologia e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, com base nos dados coletados pela estação meteorológica durante algumas décadas ininterruptas. Atenção especial para o gráfico das temperaturas mínimas registradas que giram em torno de 12ºC, mas com valores próximos a 5ºC, no inverno. Quanto às máximas, em todos os meses situam-se acima de 30ºC, mostrando a elevada amplitude térmica de Rio Branco. As chuvas distribuídas pelos 12 meses mostram perfeitamente as duas estações bem definidas: o verão chuvoso e o invernos seco.