Enchentes e inundações do rio Madeira: Desconhecimento do clima da região leva a preocupações exageradas e desnecessárias.

Davi Friale, pesquisador na área de clima e meteorologia.

É impressionante como o orgulho e a falta de humildade, além do desconhecimento do clima da região, colaboram para o anúncio de enchentes e inundações do rio Madeira, cujos alagamentos deixariam, mais uma vez, a BR-364 sem condições de tráfego.
Notícias, sem fundamento, espalham-se rapidamente, deixando a população apreensiva.
No entanto, quando anunciamos, no final de 2013, que o rio Madeira, no verão de 2014, teria a maior enchente dos últimos 60 anos e que cobriria boa parte de Porto Velho e da BR-364, ninguém se importou.
No ano seguinte, em 2015, exatamente ao contrário do ano anterior, alardeava-se que outra enchente cobriria, em poucos dias, parte da estrada, quando nós afirmamos que, desta vez, nada de anormal ocorreria em Rondônia. Na ocasião, avisávamos que a preocupação deveria ser voltada para o rio Acre, que teria a maior enchente dos últimos 50 anos e, mais uma vez, fomos ignorados por aqueles que deveriam estar atentos e prevenidos contra as consequências desastrosas de um evento daquelas proporções. Sequer nossa afirmação da iminente maior cheia, publica pelo portal O Tempo Aqui, com antecedência de mais de uma semana, foi divulgada pela maioria dos meios de comunicação. Caso tivesse sido bem divulgada, no rádio, na televisão e nos jornais, seria evitada boa parte dos prejuízos causados por aquela enchente.
Foi assim, também, com a enchente de 2012, avisada por nós com bastante antecedência, e, mais uma vez, ignorados os nossos alertas.
Quem se lembra da maior seca dos últimos 30 anos, no Acre, ocorrida em 2005, e por nós anunciada com meses de antecedência. Naquela ocasião, felizmente, ao contrário do que ocorre atualmente, todos os meios de comunicação nos procuraram para noticiar.
E a maior enchente de Tarauacá, ocorrida entre 15 e 18 de novembro de 2014, muito antes do começo do período mais chuvoso, mas que avisamos com cerca de três dias de antecedência?
E o frio intenso dos dias 23 e 24 de julho de 2015, cuja temperatura mínima oscilou entre 7 e 9ºC, mas com sensação abaixo de zero, devido aos fortíssimos ventos que sopravam ininterruptamente, na capital acreana, e que, também, fora previsto e anunciado por nós com mais de uma semana de antecedência? Fomos os únicos a anunciar tal evento atmosférico, fato que gerou inúmeros comentários até por pesquisadores de institutos conhecidos no Brasil, cuja publicação no nosso portal fora transcrita em seus portais do tempo!
Esses são apenas alguns dos avisos mais importantes por nós publicados para prevenir a população de eventos naturais severos.
Será que os acertos foram por acaso, dando-se belos chutes? Não. Muito pelo contrário, foram frutos de estudos diários, durante anos, de pesquisas climatológicas e meteorológicas sérias e, principalmente, da nossa dedicação exclusiva. São essas pesquisas e análises que nos permitem entender melhor a dinâmica da atmosfera da Amazônia Ocidental, que está diretamente ligada às condições das águas do oceano Atlântico e da atmosfera na região da Antártica.
Não vou aqui explicar minuciosamente como são feitas nossas previsões, pois não se trata de um artigo sobre meteorologia, mas apenas de uma ligeira abordagem sobre enchentes dos rios, em especial, o Madeira.
Assim, afirmo, não há nenhum motivo para preocupação exagerada sobre enchentes do rio Madeira que possam inundar novamente a BR-364, neste verão de 2016.
Não há condições atmosféricas, nem de longe, favoráveis à ocorrência de chuvas abundantes, neste verão de 2016, sobre sua bacia hidrográfica em territórios da Bolívia e do Peru, que possam causar inundações semelhantes às de 2014. Poderão ocorrer, sim, inundações leves, como sempre ocorrem, em alguns pontos mais baixos.
Nosso trabalho é sério e puramente científico, e não o fazemos com o propósito de aparecer ou concorrer com quem quer que seja. Nossa intenção é, e sempre será, de sermos úteis ao nosso país e de podermos somar com todos os que se preocupam em construir o bem. Estaremos sempre à disposição dos órgãos competentes para colaborar na prevenção de desastres naturais, principalmente, os que envolvem o tempo meteorológico.